terça-feira, 25 de outubro de 2016

O COELHINHO ENCANTADO

O Coelhinho Encantado

O Coelhinho Encantado

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Meu pensamento excursivo
deu mais um passo acertado
quando penetrou em sonho
num lugar desabitado
e trouxe pra meus leitores:
"O Coelhinho Encantado"

Trata-se de um belo conto
exemplar e fabuloso,
daqueles que o leitor chama
de romance de "Trancoso",
eu vou contar, mas declaro
que não sou um mentiroso.

Numas cavernas sinistras
do Vale das Três Montanhas,
havia uma furna enorme
com três entradas estranhas,
onde os bruxos do passado
usavam suas façanhas.

Dentro daquelas cavernas
habitava um coelhinho
que vivia desprezado,
sem conforto e sem carinho,
ele pra passar o tempo
falava triste e sozinho:

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Não sei para que nasci
e nem sei quem me gerou,
vivo sem saber viver,
nem mesmo saber quem sou
se fui alguém no passado
um outro alguém me encantou.

Vivo feito um vegetal,
não sinto sede, nem fome,
não durmo, não faço nada,
nem sei qual é o meu nome
só quem é mesmo encantado
é que vive e nada come.

Talvez eu seja algum príncipe
ou uma bela princesa
que já teve a sua corte,
com conforto e realeza,
mas não me lembro de nada,
isto chama a Natureza.

Vivo feito um coelhinho
sem os companheiros meus,
não sou feliz feito os outros
com todos os dotes seus,
pois penso mais nos humanos
e sinto que há um Deus.

Eu não sei como Ele é
nem também como se chama,
mas existe em minha mente
eu sei bem que Ele me ama,
mas eu vivo aqui sofrendo
sem lar, sem um berço ou cama.

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Se eu tivesse companhia
para alegrar-me na vida,
como bem: Uma família
nestas cavernas, unida,
mas nada disto, eu sou mesmo
uma existência perdida.

Mas com todo este desprezo
eu não pretendo morrer,
mesmo sendo um coelhinho
tristonho quero viver,
estas sinistras cavernas
são meu reino, o meu sofrer.

Amo a um Deus que não conheço,
amo a todos os vegetais,
amo as fontes e aos rochedos
e a todos os animais,
mas por não saber quem sou
meu sofrimento é demais.

Ninguém me quer, nem me ama,
também não tenho um amigo,
vivo sozinho, sem rumo,
livre de qualquer perigo,
ninguém faz nada pra mim,
nem também mexe comigo.

Não sou ninguém, não sou nada,
sou uma coisa qualquer,
um inseto, um passarinho,
um brinquedo, uma mulher,
assim vivo em meu reinado
até quando Deus quiser.

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Um dia esse coelhinho
lá se achava a lamentar
a sua vida, sem nexo
quando viu se aproximar
um tigre dos mais ferozes
e pra ele assim falar:

- Vou te comer coelhinho,
pois estou com muita fome,
hoje completou três dias
que não encho o abdome,
esta fome me corrói,
me devora e me consome.

O coelhinho lhe disse:
- Por que vai comer a mim?
eu nunca ofendi-lhe em nada,
por que quer ver o meu fim?
seja meu amigo, tigre
não seja tão mau assim!

Disse o tigre: - Não me venhas
com conversinhas fiadas,
saibas que não cairei
nestas tuas enroladas,
eu vou engolir-te agora
só com duas bocadas.

O coelhinho pediu-lhe:
- Não me comas meu amigo!
eu vivo aqui solitário
neste tremendo abrigo,
não me mate e por favor
fique morando comigo.

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Isto aqui é muito grande,
da muito bem para nós,
queira ser meu companheiro
e não um monstro feroz,
eu cantarei pra você
ouvir sempre a minha voz.

Arranje uma outra caça
e encha a sua barriga,
não mate quem lhe quer bem
e não quer saber de briga,
faça de conta que sou
uma onça sua amiga.

O tigre lhe disse: - Para
com frases inconsequentes,
meus intestinos se encontram
fracos de fome e doentes
vou te mastigar agora
com estes meus fortes dentes.

As frases do coelhinho
em nada o entemeceram,
os apelos, os pedidos
de nada enfim lhe valeram,
dos olhos do coelhinho
duas lágrimas desceram.

O tigre se aproximou
do coelhinho em questão
e logo para mastigá-lo
tomou sua posição,
mas recebeu de repente
um tiro no coração.

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O tigre caiu morrendo
e morreu em dez segundos,
o coelhinho tremendo
gritou: - Teus dentes imundos
a partir deste momento
deixam de ser furibundos.

Mas de repente ele viu
lhe surgir um caçador,
ele gritou: - Desta vez
não virá um salvador!
salvei-me do grande tigre,
mas tenho outro matador.

O caçador espantou-se
vendo um coelho falar,
aí falou para ele:
- Eu não quero lhe matar,
só matei o grande tigre
para poder lhe salvar.

Eu sou caçador de feras,
não de um pobre coelhinho,
diga-me por que se encontra
nestas cavernas sozinho
e por que sabe falar?
responda meu amiguinho?!

Essa palavra amiguinho
quando o coelhinho ouviu
teve um prazer tão enorme
que cinco vezes tossiu
e chegando junto ao jovem
por sobre os seus pés caiu.

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Disse o moço ao coelhinho:
- Não fique sobre os meus pés,
que eu não sou um egoísta
para aceitar tais papéis,
eu sou um príncipe herdeiro
de pensamentos fiéis.

Eu vagueio pelas selvas
há muitos anos perdido,
perdi-me numa caçada
e fiquei desiludido,
não sei como chegar ao reino
do meu povo tão querido.

Se você puder levar-me
eu ficarei muito grato,
o coelhinho disse:
- Eu sofro o mesmo maltrato,
não sei quem trouxe-me aqui
para este lugar ingrato.

Desta maneira, acredite
que somos dois desgraçados,
você perdido, eu também,
estamos desamparados,
ai de mim, ai de você,
dois viventes desprezados.

Quer ficar aqui comigo
morando nestas cavernas?
o príncipe disse: - Não!
eu vou mover minhas pernas
e se Deus quiser, ainda
terei as bênçãos paternas.

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O coelhinho retruca:
- Então você crê em Deus?
o príncipe disse: - É claro!
todos os reforços meus
são afim de no final
chegar aos domínios seus.

- Como são esses domínios?
perguntou-lhe o coelhinho,
o príncipe disse: - Pare
meu querido animalzinho,
eu não posso falar disto
pra você, meu amiguinho.

O coelhinho inda insistente:
- Mas Ele ama aos animais?
o príncipe disse: - Sim,
todos irracionais
são partículas de Deus
e não me pergunte mais.

Eu vou partir, por que sinto
muita saúde nas pernas,
andarei feito um maluco
por estas montanhas ternas,
você fique sossegado
nestas gigantes cavernas.

Nessa hora o coelhinho
das duas patas se ergueu,
andou nas patas traseiras,
tossiu, babou, se lambeu
e tirou um cabelinho
do seu bigode e lhe deu.

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Depois disse: - Dê um nó
e deixe-o num dos seus dedos,
por onde você andar
deslizando nos penedos,
nunca será arranhado,
nem cairá dos rochedos.

Em qualquer situação
que você tenha caído,
não se sinta em desespero
e grite com bom sentido:
- Vala-me meu coelhinho!
que será favorecido.

Do tal cabelinho o príncipe
dando um nó, fez um anel
e colocou num dos dedos,
esse objeto de bel
ficou sendo um talismã
correto e muito fiel.

Só que o moço que o usava
não sabia o seu valor,
usava-o só por usar
para agradar com ardor,
o pobre do coelhinho
que lhe o deu com tanto amor.

Pelas florestas sombrias
ele ficou vagueando,
quando as feras lhe atacavam
ele as ia devorando
e os dias de solidão
para trás iam ficando.

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Um dia o valente príncipe
enganchou-se nuns cipós,
ficou preso sem sair
daqueles estranhos nós,
o príncipe se encontrou
num sofrer bastante atroz.

O moço se contorcia
e os vis cipós lhe apertavam,
seus braços estavam presos
de jeito algum se soltavam,
aqueles nós traiçoeiros
cada vez mais lhe arrochavam.

Logo o príncipe se viu
num sofrimento de morte,
pra sair daqueles nós
ele não sentiu-se forte,
pés e mãos estavam presos,
era triste a sua sorte.

De repete um grande tigre
junto dele apareceu
e disse: - Valente príncipe
você sabe quem sou eu?
lembra-se do meu irmão
que por suas mãos morreu?

O tigre que você deu-lhe
um tiro no coração
pra salvar o coelhinho
era meu querido irmão,
você agora me paga
por sua tão grave ação.

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Vou matá-lo e estraçalhá-lo
no meio desses cipós,
aqui ninguém vem salvá-lo,
nem ouvir a sua voz,
é uma questão pesada
que se resolve entre nós.

Nisto o príncipe avistou
no seu dedo o cabelinho,
no formato de um anel,
ele calmo e com alinho
gritou na frente do tigre:
- Vala-me meu coelhinho!

De repente o coelhinho
no local apareceu,
o tigre quando avistou-o
para pegá-lo se ergueu,
o coelhinho sabido
de mato adentro correu.

Pra pegar o coelhinho
o tigre correu atrás,
o bichinho em dois minutos
sumiu-se nos matagais
e quando o tigre voltou
ao príncipe não viu mais.

Pois o dito coelhinho
dos matos tinha voltado
e ao príncipe dos cipós
havia desamarrado,
o príncipe viu-se livre
para as lutas preparado.

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Ele conheceu da força
que tinha o seu coelhinho
e acreditou no poder
do anel do cabelinho,
também viu que esse objeto
era um talismã de alinho.

Cujo tigre conheceu,
que caiu numa cilada,
mas temendo ao forte príncipe
não quis mais fazer zoada,
pois sabia que o guerreiro
era bom na sua espada.

Logo o príncipe voltou
para as três grandes cavernas
pra falar ao coelhinho
a descansar suas pernas,
pois precisava estudar
outras ideias modernas.

Junto com o coelhinho
Auro o príncipe ficou,
uma cama de capim
para dormir preparou,
um companheiro e amigo
o coelhinho ganhou.

Num recanto de uma rocha
o coelhinho ficava
e na cama de capim
o príncipe dormitava,
mas alta noite ele ouviu
um alguém que ressoava.

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Ele aplicou bem as ouças
e viu que esse ressonado
vinha da parte de dentro
e ficava assim de lado,
ele calculou que fosse
alguém que tivesse entrado.

Mas aquele ressonado
aumentava mais a mais,
ele viu-se incomodado
nas faculdades mentais,
porque não morava gente
nessas cavernas brutais.

Ele sentou-se e ficou
no seu leito de capim,
mas aquele ressonado
alteava sem pantim,
ele disse pra si mesmo:
- Não sei que será de mim!

Empunhou a sua espada
e saiu em passos lentos,
percorreu as três cavernas
com olhos bastante atentos,
não viu nada, mas só fez
aumentar seus sofrimentos.

Mas não parava de ouvir
esse estranho ressonado,
ele aplicou bem as ouças
para uma rocha de lado
e conheceu bem que ali
existia um reservado.

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Logo encontrou uma rocha,
tocou nela, ela se abriu,
ele quase desmaiou
quando a coisa descobriu,
o moço ficou palerma
com a beleza que viu.

Havia um leito de luxo
da mais alta realeza,
com cortinas sublimadas
de uma espantosa beleza
e dormindo à sono solto
se encontrava uma princesa.

A jovem permanecia
com os dois olhos fechados,
tendo a boca semiaberta
mostrando os lábios corados,
dando a conhecer a ele
que queriam ser beijados.

Ele tentou várias vezes
beijar esses lábios lindos,
que com certeza provinham
de sofrimentos infindos,
Logo pensou: - Os meus dias
estão com certeza findos.

Esta moça é encantada,
não pode ser bruxa imundo
e mora nestas cavernas
sofrendo uma dor profunda,
alguma fada encantou-a
com sua ação vagabunda.

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Eu tenho que libertá-la
deste triste sofrimento,
mas não sei como fazer,
nem como dar seguimento
na maneiro de salvá-la
deste triste encantamento.

Não conheço alguém que possa
nesta causa me ajudar,
nem posso sair daqui
para ao meu reino voltar,
Ah! se eu fosse um feiticeiro
pra com isto batalhar!

Ficou ele olhando a jovem
e vendo os seus requisitos,
como os seus olhos fechados
mostravam ser tão bonitos,
queria lutar por ela,
mas temia vir conflitos.

Ele aproximou-se mais
para perto da princesa,
mas viu seu leito afastar-se
com certa delicadeza,
ele com essa parada
quase morreu de surpresa.

isto mostrou-lhe bem claro
que aquela princesa bela
ele podia avista-la
e podia olhar pra ela,
mas de maneira nenhuma
poderia tocar nela.

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Cada vez mais para o príncipe
aumentou o seu sofrer,
pois agora em sua vida
ele tinha o que perder,
por amar aquela jovem
sem nada compreender.

Não podia tocar nela,
nem chegar perto demais,
com certeza ela provinha
de certos mundos astrais,
contendo um encantamento
dos que não voltam jamais.

E como ele ia viver
com ela no coração,
sem poder falar-lhe nada,
nem apertar sua mão?
e se o coelhinho desse
para isso explicação?

Mas ainda estava cedo
para ele falar-lhe dela,
via bem que a sua hora
ainda não era aquela,
deixaria pra falar-lhe
numa ocasião mais bela.

Ele voltou soluçando
pra seu leito de capim,
fez uma prece ao bom Deus
e no fim falou assim:
- Soberano Pai dos pais
tendes compaixão de mim!

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Ele quando adormeceu
com a princesa sonhou,
ela disse: - Caro príncipe,
hoje você me avistou,
mas ainda é muito cedo
para saber eu quem sou.

Não vá mais aonde estou
para evitar meus tormentos
e nem fale ao coelhinho
sobre mim, com seus intentos,
pois falando dobrarão
meus tristes encantamentos.

Saiba que sou encantada,
sofro o quanto a mariposa,
de noite sou a princesa,
de dia sou outra coisa,
só quando desencantar-me
poderei ser sua esposa.

Prepare-se para a luta
se quiser me libertar,
faltam apenas três dias
para a luta começar,
porque é quando o dragão
vem aqui pra me levar.

Você falou que me ama
e quer o meu coração,
mas pra isto, meu querido,
precisa de disposição,
porque você só terar-me
se destruir o dragão.

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O dragão é invencível
e fez meu encantamento,
ele vem pra me levar
sem ouvir nem argumento,
só me salva, se eu lhe der
minha mão em casamento.

Se você ganhar na luta
eu serei a sua esposa,
perdendo, o dragão me levar,
que será a pior coisa,
pra mim seria melhor
ir residir numa lousa.

Conte com o coelhinho
em todas suas disputas,
ele pode lhe ajudar
a ganhar todas as lutas,
nos campos, nas três cavernas
e em todas as grandes grutas.

Basta só chamar por ele
que ele vem lhe socorrer,
ele é grande idealista,
faz coisas de estremecer,
lembre-se que certa vez
ele o livrou de morrer.

Fisicamente ele é fraco,
mas tem planos ideais,
na cuca ele é invencível,
na astúcia ele é demais
e pode causar surpresas
a monstros descomunais.

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Nunca se esqueça de usar
seu anel do cabelinho
que recebeu certa vez
do querido coelhinho,
ele o deu por gratidão
e por ser seu amiguinho.

Lembre-se bem que o dragão
chega daqui a três dias,
a luta vai ser tremenda,
use as suas energias
e não se esqueça um segundo
daquelas garras bravias.

Adeus Auro, nos veremos
depois da luta sangrenta
que você dará por certo
à serpente peçonhenta,
o dragão é de uma forma
que nem o Diabo lhe aguenta.

Depois desse belo sonho
o príncipe despertou,
pulou fora do capim
e ao coelhinho avistou
que ele estava perturbado

o coelhinho notou.

 Mas não perguntou-lhe nada
e ficou lhe observando,
Auro passou todo o dia
pra lá e pra cá andando,
seu cérebro martelava
cada vez mais esquentando.


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A noite ele agasalhou-se
novamente no capim
não dormiu de perturbado
e nem sonhou nada, enfim
nem foi onde estava a moça,
seu amor, seu querubim.

Mas não deixou de ouvir dela
seu bonito ressonado,
ele não foi por dever
e se achar recomendado,
mas nos seus capins queridos
   morria de apaixonado.

Ele pensava: - Querida
quero gozar dos teus beijos,
quero sentir teu calor,
quero usar os teus manejos,
quero ter-te a vida inteira
pra saciar meus desejos.

Quero ver-te em minha corte
abraçada por meus pais
e amparada pelas damas
que são meigas e leais,
quero te ver em meus braços
levando acochos iguais.

Quero ter-te como esposa
pra minha consolação,
por isto estou desejando
de todo o meu coração
que chegue o bendito dia
de lutar contra o dragão.

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Cada noite que passava
o moço se contorcia,
mergulhava nos capins
pelejava e não dormia,
o pensamento na moça
um minuto não saia.

Até que chegou o dia
da chegada do dragão,
para levar a princesa
e receber sua mão
era esse o seu troféu
por sua nojenta ação.

Pois ele além de encantar
aquela princesa bela,
queria a todo ferrão
casar-se a pulso com ela,
para ser dono de tudo
até do reinado dela.

Chegou finalmente o dia
de ele levar a princesa,
que chorava angustiada
por essa grande vileza,
só que o dragão não pensava
em ter tamanha surpresa.

Ele não desconfiava
que naquelas três cavernas
houvesse um grande guerreiro
com boas armas modernas
esperando pra matá-lo
por suas grandes badernas.

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Com todo orgulho de monstro
o forte dragão entrou
na primeira das cavernas
e com bem força gritou
pelo pobre coelhinho
que prontamente chegou.

Disse o monstro: - Eu vim buscar
Anita a minha princesa
que vai se desencantar
e deixar de viver presa,
o coelhinho lhe disse:
- Cuidado com sua alteza.

Não vá cair por orgulho
na sombra dos embaraços
sua alteza pode estar
sonhando com outros braços,
então Auro apresentou-se
andando em pequenos passos.

O dragão falou: - Quem és
que chegas com afoiteza?
Auro disse: - Eu sou o príncipe
noivo da bela princesa,
que vai destruí-lo agora
pra dobrar sua vileza.

O dragão disse: - Pamboca,
o noivo dela sou eu
e vou te esmagar agora
com todo este corpo meu,
tu és bastante atrevido,
sujeitinho pigmeu.

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Auro disse pra o dragão:
- Se firme, lá vai espada,
o dragão soltou um silvo
e se livrou da furada,
depois atacou o moço
com tremenda rabanada.

Auro se abaixou ligeiro
e o grande rabo bateu
numa rocha gigantesca
com um furor que doeu,
o dragão se contorcendo
para atacá-lo se ergueu.

Auto com toda energia
deu-lhe sete cutiladas,
o dragão se viu na hora
com três costelas furadas,
dois buracos na barriga
e duas patas varadas.

Mas ele soltou um fogo
que clareou nas cavernas,
suas furadas sararam
com labaredas internas
e de repente engrossaram
as suas gigantes pernas.

O dragão ficou mais forte
do que fora no passado,
Auro disse: - Lá vai ferro
seu monstro vil, desgraçado,
a espada dele varou
um quarto do condenado.

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O dragão soltou um silvo
que soou nos grandes prados,
o rapaz meteu-lhe o ferro
com manejos controlados,
fazendo nas costas dele
dois furos agigantados.

O dragão se ergueu das patas
e caiu sobre o rapaz,
este escapou embolando
como um bom guerreiro faz,
o dragão virou-se urgente
com o seu furor voraz.

Auro não lhe dava trégua
furava-o sem compaixão,
mas o dragão era rápido
de não ter comparação,
porém Auro lhe furava
sem procurar posição.

Couro de dragão é duro,
dizem que espada não fura,
mas a espada do guerreiro
não via essa crosta dura,
mergulhava pra valer,
sem calcular a fundura.

O dragão de tão furado
já se parecia um ralo
e o príncipe lhe furava
com vontade de matá-lo,
o dragão pôs-se remando
como quem faz um embalo.

----------------------------------25----------------------------------

Com o sangue do dragão
o chão começou se enchendo,
parecia um chafariz
de rua afora correndo,
o dragão soltava silvos
sentindo o corpo doendo.

Mas ele soltou um fogo
queimando as partes internas
que quase cegava o moço,
ainda feriu-lhe as pernas
e provocou um incêndio
por dentro das três cavernas.

Com as chamas desse fogo
o dragão recuperou-se
e pra cima do guerreiro
com toda fúria jogou-se,
Auro se vendo em perigo
para a lateral passou-se.

E começou novamente
a castigar o dragão,
dava-lhe cada furada
do furo entrar quase a mão,
logo o monstro se virava
com a maior perfeição.

O coelhinho de lá
observava essa luta
e pensava: - Como é belo
se vê tamanha disputa!
o dragão pensava mesmo
que esse moço era um biruta.

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Que luta gozada e boa,
das que vi foi a mais bela,
pena não ser necessário
que eu participe dela,
o príncipe vai vencer
bem antes que eu entre nela.

O príncipe deu no monstro
mais três belas espadadas,
foram três arcos de sangue
que saíram das furadas,
mas o dragão mandou fogo
curando as partes varadas.

O príncipe disse: - Eu furo
este monstro na garganta
pra ele não soltar fogo,
porque o que mais me espanta
é furar e não valer,
assim nada me adianta.

Isto ainda era de dia,
a moça chegava à noite
transformada na princesa
para fazer seu pernoite,
mas o dragão que a queria,
recebia o seu açoite.

Se acaso chegasse a noite
com essa luta singela,
sem o rapaz ter vencido
ao dragão, o algoz dela,
este dali partiria
levando a linda donzela.

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Se isto assim acontecesse
o príncipe perderia
a sua linda princesa
e o tal dragão partiria
levando a donzela que
não se desencantaria.

Já eram cinco da tarde,
as seis o grande dragão
partiria com a jovem
pra dar-lhe condenação,
ela jamais sairia
da maldita escravidão.

Pois só seria liberta
se ao tal dragão desposasse
de todo jeito pra ela
chegaria o desenlace,
ela só seria salva
se o moço ao dragão matasse.

As horas tinham passado,
os minutos decorriam,
o moço e o vil dragão
fortemente combatiam,
as furadas do rapaz
no monstro já não doíam.

Continuaram lutando
com modos rijos e brutos,
os combatentes queriam
mostrar os seus atributos,
o Sol mostrou seu horário
das cinco e trinta minutos.


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Faltava só meia hora
para o dia terminar
e a luta chegar ao fim,
sem um nem outro ganhar,
para o dragão pavoroso
à pobre moça levar.

Auro já muito cansado,
por um descuido caiu,
a sua possante espada
não sei como escapuliu,
o dragão jogou-se em cima
aproveitando o que viu.

Ia engolindo o rapaz,
quando ele então se lembrou
do anel que o coelhinho
com carinho lhe ofertou,
o bichinho de repente
defronte o dragão parou.

O dragão deixou o moço
e agarrou o coelhinho
dizendo: - Eu vou mastigar-te,
pra gozar um bocadinho
do sabor da tua carne,
bicho intruso enxeridinho.

E com orgulho tremendo
de suas forças potentes,
mastigou o coelhinho
junto com as babas quentes,
mas como sendo um castigo
quebrou todos os seus dentes.

----------------------------------29----------------------------------

O dragão abriu a boca
soltando estrondoso berro,
o príncipe já armado
gritou: - Agora eu não erro,
na garganta do dragão
enfiou seu branco ferro.

Quando a espada entrou macia
o dragão esmoreceu,
caiu com tremendo estrondo
e de repente morreu,
como num dia final
tudo ali escureceu.

O coelhinho que foi
pelo dragão mastigado,
em uma estátua de bronze
achava-se transformado,
por isto quebrou os dentes
do dragão vil desgraçado.

Ele chegou pra salvar
o príncipe do dragão,
pra isso ele era enviado
e cumpriu sua missão,
assim ajudou o príncipe
naquela grave questão.

O príncipe não sabia
como as coisas sucederam,
só viu bem que as três cavernas
no momento escureceram,
depois os campos surgiram
e os montes apareceram.


----------------------------------30----------------------------------

Ele não viu mais dragão,
coelhinho, nem cavernas,
viu-se sentado num trono
com instalações modernas,
tendo ao lado duas damas
finas, pacatas e ternas.

A direita de uma delas
viu um forte cavalheiro
mostrando que era um rei,
este muito prazenteiro
entregou-lhe uma coroa
dizendo-lhe: - És o herdeiro.

Da dama da sua esquerda
ele não lhe viu o rosto
por achar-se sob um véu,
Auro não sentiu desgosto,
mas também não sentiu nada
que fosse do seu bom gosto.

O rei disse: - Caro príncipe
nós vivemos encantados,
há muitos e muitos anos,
por um dragão dominados,
mas graças à sua espada
estamos desencantados.

Pelo seu grande valor,
bravura e merecimento,
eu lhe dou minha coroa
e a princesa em casamento,
pois só assim lhe farei
completo agradecimento.

----------------------------------31----------------------------------

O príncipe disse ao rei:
- A coisa me maravilha,
sei que o senhor quer me ver
seguindo na justa trilha,
mas eu não quero a coroa,
nem casar com sua filha.

Eu amo a uma princesa
que conheci encantada,
por isto não posso amar
outra a não ser a minha amada,
a minha vida sem ela
lhe juro: não vale nada.

O rei deu uma risada
e lhe beijou os dois pés,
depois lhe disse: - Eu adoro
as criaturas fiéis,
você moço, vai gozar
dos brasões dos seus anéis.

Aí falou para a filha:
- Retire o véu do seu rosto,
para dá felicidade
a quem lhe adora com gosto,
ela retirou chorando
aquele paninho oposto.

Auro quando viu o rosto
de Anita, a sua princesa,
quase morreu de alegria
e da tamanha surpresa,
pois a moça que ele amava
era aquela com certeza.

----------------------------------32----------------------------------

Ele disse ao soberano:
- Perdoe-me e muito obrigado,
pois é esta a grande deusa
por quem vivo apaixonado
e se o senhor permitir
quero agora ser casado.

o rei disse que aceitava
e nesse feliz momento
o sacerdote do reino
celebrou o casamento,
deixando naquela corte
o povo todo a contento.

Depois o rei disse a Auro:
- Escute meu amiguinho
Anita, o seu grande amor,
sofreu grande desalinho,
à noite ela era a princesa,
de dia era o coelhinho.

O reino do pai de Auro
com todas as suas bandeiras
era ligado ao do outro
sem batalhas, nem trincheiras
para os dois reinos unidos
não existiam fronteiras.

Jovem Auro conseguiu
o seu grande amor sagrado,
sua bela esposa Anita
inspirava o seu amado,
já nosso herói de valia
viveu vendo todo dia
a sua esposa ao seu lado.

FIM

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